Páginas

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Palavra Brega


Afora as concepções outras de breguice, hoje escolhi a do senso-comum para comentar. Pois bem, em se tratando de vestimenta, roupa brega, pelo menos, popularmente, é aquela mal-conjugada. Você mistura tudo (todas as cores, todas as malhas, todas os estilos) e algo destoa. Na harmonia da aparência, algo desponta do equilíbrio e vira ridículo. Não que eu tenha algo contra as pessoas bregas. Convivo normalmente. Mas, que o brega normalmente é engraçado e bizarro, é. Causa algo como: "Nossa, eu não usaria isso. Não dessa forma. Não aqui".
Palavra brega é quase assim. Inadequada. Você usa, quando percebe, usou mal. Compreende a máxima: " Perdeu uma ótima oportunidade de ficar calado". Você acusa quem não deve, aponta o defeito inexato, discorda, sem solidez. É uma afirmação líquida. Você fala, e vê que aquilo vai descendo, levemente da sua boca, como água que vai para o ralo. O problema é: já foi dito. Saiu. Não dá para sair aparando a água, nem a palavra dita.
Há quem tente. Um "gaguejar", um "Ops, não foi isso que quis dizer", um "Bem, mas não é bem assim"...
Mas, nem isso traz a palavra de volta pro seu cérebro - elementar. Ela já foi dita e ouvida. E mais: interpretada.
Aí está a beleza da palavra brega. Pra não dizer o contrário.
Na verdade, a palavra brega se torna mais ainda brega, de fato, quando interpretada como tal. Vai dizer que você nunca falou algo, sem intenção de magoar, de confundir ou de assustar...e o que aconteceu com o receptor da sua informação foi justamente isso: saiu magoado, confuso e assustado?
Muitas são as vezes que falamos uma palavra que para nós está na última moda de Paris e soa para o outro como brega. Se isso acontecer e a pessoa gostar de brega, tudo bem. Se não gostar, está tudo perdido. Ou quase tudo.
Sem intenção, você acaba por transmitir ao outro, não o que você quis, mas o algo mais, que vem com as palavras ditas. Aquilo que está subentendido, que está na cabeça do outro. Aquilo que não é você, mas o que o outro pensa de você.
É um choque achar que foi chique (ch, ch, ch...) e acabar sendo brega. Mas, é comum. Tudo bem que, de vez em quando, a vontade é de entrar na cabeça do outro e dizer: "Não foi isso que eu quis dizer, entenda dessa e dessa forma, lalalala...". E que isso fosse compreendido. Tudo bem que, às vezes, seria melhor só você ser emissor, receptor, mensagem, canal e tudo mais das informações. Porque ser mal-interpretado é ruim demais! É uma sensação de impunidade! O outro te julga e você está sem argumentos pra convencê-lo, simplesmente, porque ele decidiu não entender a situação de outra forma.
É. Não é fácil ser hommo sapiens e ter com isso todo o fardo da comunicação.
Sim. Por vezes, o que é excelência, torna-se fardo.
Mas, é nisso que a gente cresce e acaba se adaptando nas situações que se revelam. Não é tudo que se diz para todo mundo. Não é todo mundo que ouve tudo. Tem quem seja chique, tem quem seja brega. Tem quem seja chique, sem querer...e brega, sem saber. E ainda tem que chique e brega são conceitos que serão estabelecidos, de acordo com determinada referência. E referenciais podem mudar, dependendo de quem vê - e como. Tem tanta coisa nesse mundo, que palavras não explicam. Tem de tudo nessa vida. E um parágrafo a mais, deixa esse texto grande, em exagero. Fugirei da moda. Da moda que eu decidi para esse momento. E, como não quero ser brega, ponto.
P.S.: A foto acima: "quase-que-completamente-nada-a-ver". De propósito, para combinar com o título do texto.
31/03/09

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Bem-vindo (a)! Partilhemos!